Quando você estiver lendo este texto, certamente nao estarei mais no Chile (país que visitei por três dias) e do qual darei dicas para quem quiser no futuro se aventurar e viajar para lá. Primeiro: quer ir sozinho como fui? Então prepare-se para um mundo de dificuldades e aprendizados.
Viajar sozinho pode ter suas vantagens, mas também é uma escolha corajosa. Decidi que ia nas férias para o Chile, Argentina e Uruguai. Para não cair de paraquedas nos países, visitei o blog Me fui pro Chile, do amigo e ex-colega de Q? Guilherme Mazui e peguei todas as dicas (o cara fez essa viagem no ano passado). Comprei minha passagem de avião (de ônibus pro Chile é muito longe e leva muito tempo, umas 40 horas) e reservei o albergue (ou Hostel, como é chamado mundialmente). Resolvi ficar no que havia sido indicado, o Plaza de Armas, que é muito bom.
Dica para quem vai ficar em albergue: quem ficar em quarto coletivo como eu (que é mais barato) terá de dividir o local com estranhos, a maioria estrangeiros. Terá de aguentar os roncos alheios, a bagunça que alguns fazem ao espalhar suas coisas pelo quarto. Outra coisa importantíssima: banheiro. No Plaza, há as duchas (onde se toma banho) e os sanitários separados por sexo. Mas detalhe: sao três duchas, uma no lado da outra, com apenas cortinas fechando elas. Ou seja, você fica nú na frente de outras pessoas antes e depois do chuveiro. Quem não quer passar por isso, precisa consultar seu albergue antes.
Andar sozinho por uma cidade grande em outro país no qual as pessoas não falam a sua língua é penoso, mais ainda se você não tiver um mapa na mão. Meu caso é claro. Saí pelas ruas andando de um lado a outro. De vez em quando pedia informações. Foram nesses momentos que fui surpreendido. Os chilenos que encontrei eram muito fechados e davam informações meio que a contragosto. Não são receptivos e calorosos, algo talvez que seja da própria cultura deles, mas para quem é turista é complicado. Minha dica é sempre pedir informação para guardas (que são muito gentis) ou para pessoas ligadas ao turismo. Esses dois tipos (guardas e pessoas que trabalham com turismo) são muito tranquilos e ajudam bastante.
PORTUNHOL
Quem vai vir pro Chile e atacar com um portunhol (como yo) deve saber que os populares não se esforçam para entender e os chilenos falam muito rápido. Precisava ir à rodoviária e perguntei onde tinha estação de ônibus. Falei bus (em inglês) e ninguém entendia. Nosso ônibus para eles é bus (pronuncia-se com o u forte). Superparecido com o que eu falei, mas não igual.
Em outro momento, queria informaçoes para ir à Casa da Moeda. Perguntei a um jovem e ele não me entendia. Não pensei duas vezes, saquei uma moeda do meu bolso e falando devagar e fazendo mímica perguntei ”Casa de moeda?”. Mesmo sendo os chilenos mais fechados, quem visitar o país deve pedir informações a quem aparecer pela frente. É melhor do que ficar perdido.
LA PLATA
Outra complicação é a grana. No Chile se trabalha com o peso chileno e ele tem muita diferença do Brasil porque a maioria das coisas gira em torno de mil. Isso mesmo. Quer uma coisa? “Dois mil pesos”. Para nós brasileiros, dois mil é muita grana, mas aqui equivale a mais ou menos R$ 8,00. Eis aí a confusão. Mas rapidinho você pega o jeito. Só preste atenção: as notas de mil pesos e de 10 mil pesos são muito parecidas.
SOLITO, NO!
Se tem uma grande lição que aprendi nesses quatro dias de viagem é que se pode até viajar sozinho, mas não permanecer. Passar o domingo rodando Santiago solito, sem ter com quem conversar (mais eu que adoro um papo), foi horrível. Acabei ficando muito mal e cheguei a pensar em encurtar a viagem. Numa cena dramática, digna de filme, fui a uma igreja perto do albergue onde fico e comecei a chorar olhando a foto dos meus pais e meu irmão na rodoviária de Santa Cruz. Não me importei que havia várias pessoas ao meu redor. Simplesmente chorei por uns vinte minutos e pedi a Deus que me desse forças para continuar.
E para quem não acredita em milagres, mais uma prova. Voltei pro albergue, fui chamado para uma roda de conversa e bati papo com três coreanos, um britânico, outro brasileiro e um chileno. Foi muito bom. Para me comunicar chegava a falar português, espanhol e inglês numa frase só. Essa é outra dica: não fique com vergonha, fale, erre, mas tente. No bate-papo aprendi dois jogos de carta novos e pude jogar com a galera.
Depois encontrei mais três brasileiras e fiz amizade. Percebi então que a viagem tinha passado por uma reviravolta e que coisas boas iriam acontecer. O dia seguinte foi maravilhoso. Fui até Valparaíso, na costa pacífica do Chile, visitei Viña del Mar e Reñaca, uma do lado da outra. Para isso paguei um city tour (outra dica muito boa: você paga 15 mil pesos e passa o dia inteiro zanzando pelas cidades, de van e com guia). Valparaíso tem bairros levantados na montanha, é uma espécie de favela mais bonita, porque todas as casas são coloridas. Viña tem uma arquitetura riquíssima e um cassino, para quem gosta de jogatina. Nos três locais é possível ver o Pacífico, que de pacífico nao tem nada. Foi em Reñaca que molhei meu pés e de lambuja parte da minha bermuda depois de ser surpreendido por uma onda maior.
VINHO
Para quem quiser se movimentar por Santiago, indico o metrô que cobre toda a cidade, é superfácil de se achar. Evite os ônibus. Existem diversas paradas, mas em cada uma há os números dos ônibus que param nela. Assim, se o que você precisa não está na lista, vá a caça de outra parada que tenha o número. Mas não recomendo, porque as placas com as direções são confusas e é fácil pegar o busão errado.
Quem se interessar pela viagem deve tirar um tempo e aproveitar, porque vale a pena. Para finalizar, meu último dia no Chile foi de visita à vinícola Cocha Y Toro (passeio que uma amiga que prefiro não citar o nome adoraria fazer), ao Cerro San Sebastian e ao Cerro Santa Lucía. Todos muito lindos. Agora é a Argentina que me espera. Como será essa segunda parte da viagem? Só daqui a uma semana poderá se saber.
PS: Relato publicado no Caderno Q? do Jornal Gazeta do Sul do dia 27 de janeiro de 2010.